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Paulo Freire

junho 3, 2013

Lendo o livro de Paulo Freire, Professora sim; tia não: cartas a quem ousa ensinar. Civilização Brasileira 2012,  23 edição.  Copiei alguns trechos, que seguem abaixo.

“Mas, se nem sempre as sombras ideológicas são deliberadamente forjadas, programadas pela poder de classe, a sua força opacizante da realidade serve indiscutivelmente aos interesses dominantes.  A ideologia do poder não apenas opaciza a realidade mas também nos torna míopes para ver claramente a realidade. O seu poder é domesticante e nos deixa, quando tocados e deformados por ele, ambíguos e indecisos. Daí ser fácil entender a observação que uma jovem professora da rede municpal de São Paulo me fez em conversa recente comigo:”Em que medida certas professoras querem memos deixar de ser tias para assumir-se como professoras? Seu medo à liberdade as conduz à falsa paz que lhes parece existir na situação de tias, o que não existe na aceitação plena de sua responsabilidade de professora.””.

“Avaliar para melhor formar, ao contrário de avaliar para punir.”

“A tentativa de reduzir a professora a condição de tia é uma ïnocente armadilha ideológica em que, tentando-se dar a ilusão de adocicar a vida da professora o que se tenta é amaciar a sua capacidade de luta ou entretê-la no exercício de suas tarefas fundamentais.”

“Nós somos seres indiscutivelmente programados mas, de modo nenhum , determinados. E somos programados sobretudo para aprender, como salienta François Jacob.”  (pg. 205)

“É interessante observar, também, que é, na operação de “tomar distância” do objeto, que dele nos äproximamos. A “tomada de distância” do objeto é a äproximação” espistemológica que a ela fazemos. Só assim podemos “ad-mirar” o objeto, no nosso caso, a manhã, em cujo tempo analisamos como nos movemos no mundo.”  (pg. 203)

“O basismo, negando validade à teoria; o elitismo teoricista, negando validade à prática.” (pg. 204)

“Disciplina sem a qual o trabalho intelectual, a leitura séria de textos, a escrita cuidada que a gente vai aprendendo a metodizar, a produzir, a observação dos fatos, sua análise, o estabelecimento de relações entre eles, nada disso se cria”.  (pg. 189)

“Só há disciplina, pelo contrário, no movimento contraditório entre a coercibilidade necessária da autoridade e o gosto e a busca desperta da liberdade para assumir-se”.  (pg. 190).

“O professor deve ensinar. É preciso faze-lo. Só, porém, que ensinar não é transmitir conhecimento. Para que o ato de ensinar se constitua como tal é preciso que o ato de aprender seja precedido do ou concomitante ao ato de aprender o conteúdo ou objeto cognoscível, com que o educando se torna produtor também do conhecimento que lhe foi ensinado.” (pg. 194)

Desses textos, tracei alguns paralelos com temas ligados a minha pesquisa.

Primeiramente vale ressaltar o termo “opacizar”  usado por Paulo Freire, isso está diretamente  relacionado com o conceito de transparência.

Vale também, apontar a visão do humano como criado para aprender e o papel colaborativo dessa aprendizagem.  Aqui vemos uma fonte de inspiração para nosso trabalho em pedagogia transparente, focada, inicialmente, no contexto de jogos.  Veja um artigo recente sobre isso.

No que concerne a Engenharia de Software, achei a referência ao “ad-mirar”  como sendo uma maneira, outra, de abordar o tão importante tema de abstração.

Ainda sobre Engenharia de Software, é importante ter-se, principalmente em pesquisa,  um equilíbrio entre o basismo e o eletismo teoricista.  Dados são importantes,  como diz Peter Freeman: “ideas are cheap, data is dear“, mas sem espaço para novas idéias, fica-se só com dados, sem idéias.  Há que se ter um equilíbrio.  Como diz  Richard James Hodge: “o engenheiro tem que ter bom senso: nem 8 nem 80, mas sim 44”