Segue abaixo uma observação que enviei à lista da SBC (Sociedade Brasileira de Computação). Nela, refiro-me a uma nota publicada pelo editor da revista CACM, Prof. Vardi. Vardi comenta uma característica dos acadêmicos de Computação: são mais críticos que muito de seus pares de outras disciplinas.
Como digo abaixo, creio que isso tem muito a ver com a educação que os Ph.D. em Computação tiveram e ressalto a Lei de Murphy e o foco em especificações formais como base para a prova de programas.
Especificações formais foram e ainda são muito pouco compreendidas pelos cientistas de software. Existe uma confusão entre a especificação do produto e a especificação do problema. Isso gera uma questão filosofica de complexo entendimento, que é a completude (completeza) de uma especificação do problema.
Isso será alvo de uma nota futura.
No momento vai o texto da mensagem que tem por título: Critiquice — Lei de Murphy — Arqueologia.
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Prezado(a)s,
Em Dezembro de 2001 mandei uma mensagem para a SBC-L (veja abaixo).
Estava, na época, referindo-me a um trabalho de levantamento de 2001 sobre
a classificação do CA-CC dos pesquisadores de Computação. Esse
levantamento apontava para um grande afunilamento, isto é poucos
pesquisadores nos níveis mais altos, que só ocorria no comitê da Ciência
da Computação. Pelo que entendo esse afunilamento persiste.
Na mensagem usei a palavra, rigor. A nota de Vardi fala de hiper críticas
(ou seria hiper criticabilidade?) ou seria na verdade critiquice (segundo
o Aurélio: 2. Mania de criticar ou censurar à toa)?
Vardi fala de duas possíveis causas: mentes orientadas a faltas e
sobrevivência. Concordo muito com a primeira. Isso me recorda da Lei de
Murphy. Creio que essa “lei” norteou muito a área na busca de programas
sem faltas, provados corretos contra especificações formais. O núcleo da
segunda geração de cientistas da computação foi particularmente
influenciado por essa “lei”.
O fato de Vardi levantar o problema na revista CACM é importante. Quem
sabe as próximas gerações vão ser mais construtivas, sem perder o rigor.
jcspl
—————————- Original Message —————————-
Subject: [Sbc-l] Parabéns
From: “Julio Cesar Sampaio do Prado Leite”
Date: Wed, December 19, 2001 12:51 pm
To: sbc-l@sbc.org.br
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Gostaria de parabenizar os Professores Julius Leite e José R.A. Torreão
pelo importante trabalho feito em relação a distribuição das bolsas de
produtividade
e pesquisa do CNPq.
Creio que os fatos levantados permitem um melhor conhecimento de nós mesmos
e acredito apontam para uma caractéristica da comunidade; um forte
espiríto de rigor.
Isso, creio, é proveniente da
própria caractéristica da “ciência da computação”, que tenta se apresentar
como
ciência, mas que dada a sua horizontalidade no espectro do conhecimento, e
ao fato de ser jovem, ainda carece de um coerente núcleo básico. Disto
resulta uma dificuldade maior nos julgamentos e a utilização de uma postura
de julgamento mais conservadora, que aparenta ser mais segura.
No entanto, não devemos deixar esse “rigor” trabalhar contra a
comunidade. Espero que o atual CA , os CAs anteriores e o próprio CNPq
reflitam com cuidado diante desses números.
Aproveito e desejo um Feliz Natal e um ótimo ano novo a todos.
jcl
Tags: cacm, critiquice, especificaçõesformais, leidemurphy, sbc, vardi
julho 25, 2010 às 10:26 am |
Prezado Júlio, eu me lembro da sua postagem mais antiga. O tema é recorrente nas disciplinas de metodologia de pesquisa em ciência da computação. Nossa área, infelizmente, é muito rigorosa consigo própria, e isso age contra todos nós. Comparo sempre com as demais áreas dentro da UFV, notadamente as de Agrárias e até as mais novas, a diferença é muito grande. Enquanto a gente consegue levar apenas um projeto adiante a duras penas, e publicar alguma coisa no final dele na maioria das vezes em congresso, meus colegas das Agrárias têm vários projetos em andamento, financiamento sobrando em vários editais, e um monte de publicação em journals (eles têm um monte de títulos de journals Qualis alto, todas no Brasil mesmo). Dá impressão de que estamos dando murro em ponta de faca… abraço
julho 30, 2010 às 1:02 pm |
Caro José Luis,
Obrigado pelo comentário. É isso mesmo, é incrível como trabalhamos contra nós mesmos. Há que insistir e buscar meios onde se possa divulgar os trabalhos preferencialmente em veículos que permitam a escrita em Português, isso facilita a quem escreve e é indispensável para os que querem aprender mais.
Abraço,
jcspl