Na última Segunda Feira, no passar do controle remoto pela TV Educativa (hoje TV Brasil) a voz do entrevistado do Roda Viva me pareceu familiar. Interessante, porque a última vez que tinha ouvido o Professor Stezer foi no II SBES (em 1988). Realmente “amazing”.
Fiquei curioso e comecei a escutar a entrevista. O assunto era a posição radical do Prof. Stezer contra o uso de TV e jogos eletrônicos por crianças. Aprendi então que o Prof. Stezer dedicou-se ao tema e estudou vários autores para chegar a essa conclusão. Vale a pena pensar sobre isso.
Aqui temos que parabenizar a TV Cultura por convidar o Prof. Stezer, certamente uma voz discordante. Temos que parabenizar o entrevistado por sua coragem e posição quixotesca, mas correta, na defesa da criança e do adolescente. Sua posição é radical, mas talvez esteja aí sua grande vantagem. É raro, nos dias de hoje, termos acesso as opiniões que não sigam o padrão esperado.
Três pontos me chamaram a atenção. O primeiro foi sobre estudos que falam da relação obesidade e televisão, enfatizando que o tipo de emissão de luz dos aparelhos de televisão levam a um estado de inércia das funções mentais. O segundo foi sobre o efeito de dessensibilização provocado pelos jogos violentos. O terceiro foi sobre os efeitos nocivos da velocidade da mudança que o mundo vem imprimindo a si próprio.
Hoje, fiz uma pesquisa na rede para escrever essa nota. Vale a pena visitar a página do Professor. Descobri, também, que ele foi orientador de mestrado de vários professores tais como: Andrea Zisman, Siang Wun Song e Routo Terada.
Descobri que o livro citado na entrevista é o livro “Stop Teaching our Kids to Kill” de um autor especialista em lidar com combatentes. Descobri no Scholar um artigo recente sobre o tema (dessensibilização), publicado num periódico de psicologia social.
Sobre a questão da velocidade de mudança do mundo, volto a lembrar uma citação do Professor Milton Santos (Por uma outra globalização: do pensamemto único à consciência universal, M Santos – 2000 – Editora Record)
“Pode-se dizer que a velocidade assim utilizada é duplamente um dado da política e não da técnica. De fato o uso extremo da velocidade acaba por ser o imperativo das empresas hegemônicas e não das demais, para as quais o sentido da urgência não é uma constante. Todavia, a velocidade atual e tudo que vem com ela, e que dela decorre, não é inelutável nem imprescindível. Na verdade, ela não beneficia nem interessa à maioria da humanidade. Para quê, de fato, serve esse relógio despótico do mundo atual?”
9/12/08: Fiquei curioso com minha própria pergunta, no comentário abaixo, e resolvi procurar. Listo, abaixo, endereços onde o tema <violência, jogos, tv> é tratado por pesquisas de cunho científico feitas no Brasil ou em Portugal. Fiz uma seleção usando o Google Acadêmico e as palavra chaves dessensibilização, jogos e violência.
- A ESTETIZAÇÃO DA VIOLÊNCIA NO DRAGON BALL Z E A INFLUÊNCIA SOBRE AS CRIANÇAS de ALINE SILVA DA SILVEIRA, JOSELE NIARA PAIXÃO e KARINA DA CONCEIÇÃO COSTA
- JOGOS DE COMPUTADOR VIOLENTOS E SEUS EFEITOS NA HOSTILIDADE, ANSIEDADE E ACTIVAÇÃO FISIOLÓGICA de Patrícia Arriaga Ferreira, Maria Paula Carneiro, Maria Lurdes Miguéis, Sandra Soares e Francisco Esteves
- A influência de filmes violentos em comportamento agressivo de crianças e adolescentes de Paula Inez Cunha Gomide
- Violência na mídia ou violência na sociedade? A leitura da violência na mídia
- GAME OVER: JOGOS ELETRÔNICOS E VIOLÊNCIA
- VIOLÊNCIA NA MÍDIA E SEU IMPACTO NA VIDA DOS ADOLESCENTES
- Filme com cenas de violência: efeito sobre o comportamento agressivo de crianças expresso no enredo de uma redação
Tags: dessensibilização, jogos, roda viva, valdemar stezer, violência
dezembro 7, 2008 às 11:59 pm |
Olá a todos/as,
Interessante comentários do Júlio César sobre minha participação no programa Roda Viva e sobre algumas de minhas idéias. Gostaria de adicionar o seguinte.
1. Fiquei um pouco frustrado por ter deixado de abordar coisas muito importantes, como o consumismo infantil forçado pela TV. Complementem com minha entrevista de 12/11/08 à TV Jovem Pan Online, em
http://jovempan.uol.com.br/jp/media/online/index.php?view=20578&categoria=149%20%20
que ficou ótima; para minha supresa, deixaram-me falar à vontade (se eu ivesse sabido disso, teria preparado um roteiro…). Se perder o endereço, dê uma googlada com
setzer “jovem pan”
E, por favor, leiam meus artigos em meu site, pois o texto escrito é o meio de comunicação que mais preserva a liberdade do receptor, permitindo muito mais reflexão e, em relação à velocidade mencionada pelo Júlio César, justamente permite que o leitor use sua própria velocidade e maneira de ler, e observar calmamente eventuais figuras.
2. Em relação aos meios eletrônicos, atribuo a cada um uma característica fundamental. A TV induz normalmente um estado de sonolência, semi-hipnótico; por isso ela é o veículo ideal de propaganda, gravando no suconsciente das pessoas todas as mensagens (há alguns anos, no Brasil o gasto total de propaganda na TV era 2/3 do gasto total — há obviamente o fator de penetração, mas isso não daria resultado se o meio não fosse eficaz). Assim, a TV é muito mais um meio de condicionamento do que de informação.
3. Tratarei dos video games de longe os mais jogados, os de ação/reação. Neles, a velocidade é fundamental, e o resultado é que o jogador não tem tempo de pensar conscientemente, pois esse tipo de pensar é muito lento. Deve jogar intuitivamente, abafando totalmente seus pensamentos conscientes. Isso significa um condicionamento a uma reação instintiva, animal, prejudicando o auto-controle que é feito pela ponderação da consequência dos próprios atos, característica essencialmente humana, inexistente nos animais, que não pensam conscientemente. Uma palavrinha sobre jogos de estratégia: eles forçam um raciocínio impróprio para crianças e adolescentes, além de apresentarem uma imagem do mundo baseadad em modelos matemáticos, que não tem nada a ver com a realidade, dando uma falsa impressão desta.
4. O computador é máquina matemática, lógico-simbólica. Qualquer comando que se dá à máquina, sob qualquer forma em qualquer programa, produz a execução de uma função matemática. Portanto, o usuário não está percebendo, mas é forçado a exercer um pensamento matemático, lógico-simbólico. Examinando o desenvolvimento da criança e do jovem, cheguei à conclusão de que esse tipo de pensamento é altamente prejudicial para crianças e adolescentes antes de uns 15 anos. Como o computador e a Internet exigem um tremendo auto-controle e discernimento para decidir o que é benéfico e o que é maléfico, e minha experiência pessoal de que antes do 17 anos os jovens são incapazes de encarar o computador como instrumento sério e útil, só querendo brincar com ele, determinei essa idade como a ideal para que eles comecem a usar essa máquina. Quixotesco? Sem dúvida, mas a destruição atual da natureza e do ser humano é muito pior do que quixotesca, é verdadeiramente diabólica, e é preciso mudar de mentalidade, quem sabe tornando-nos um pouco quixotescos para mudarmos essa situação.
5. A primeira vez que publiuei um artigo onde havia uma seção contra o uso de computadores na educação foi em 1976, vê-lo em meu site. Para comparação, o livro de Papert “Mindstorms” (notem bem, ele queria provocar tempestades mentais em crianças!!! Aliás, seu sistema usando Logo, que sempre critiquei com veemência, não deu certo, que é que estava com a razão, eu ou ele?) é de 1980. Porque só agora estou começando a ser ouvido? Por que meus argumentos sempre se concentraram nos aspectos das influências psicológicas e psíquicas dos meios eletrônicos. Agora a Internet está apresentando perigos físicos; vejam meu artigo “Como proteger seus filhos da internet”. E perigos físicos e seus trágicos resultados todos podem ver, e não dependem da visão de mundo de cada um.
6. Aliás, é a minha visão de mundo que me faz ser diferente de quase todo o resto da humanidade. Mais detalhes em meus artigos.
aaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa a todas/os.
dezembro 8, 2008 às 1:27 pm |
Prof. Stezer,
Obrigado pelo comentário e novas explicações.
Volto a lembrar que vale a pena ler o artigo de Carnagey de 2007. (vide elo na nota acima). Seria interessante que cientistas comportamentais brasileiros também fizessem esse tipo de pesquisa (será que fazem?).
jcspl
dezembro 9, 2008 às 6:20 pm |
Olá, Júlio César,
Agradeço imensamente ter-me chamado a atenção para o artigo de Carnagey, Anderson e Bushman. Sensacional. Eu já conhecia trabalhos do Craig Anderson, veja em
http://www.ime.usp.br/~vwsetzer/coments-Veja-110106.html
especialmente o item 4.
Há muitos anos atrás eu tentei interessar o pessoal da Psicologia da USP a fazer pesquisas sobre os efeitos neurofisiológicos da TV, mas sem nenhum sucesso. Quem sabe eles não queriam ser do contra…
aaaaaaaaaaaa, VWS.
dezembro 9, 2008 às 8:38 pm |
Por curiosidade, fiz uma busca no Google Acadêmico. Coloquei uma
série de elos para trabalhos feitos no Brasil.
jcspl